É necessário apoiar os jovens ciganos na rentabilização das suas potencialidades tanto na sociedade com na Igreja, foi uma das principais conclusões do VI Congresso Mundial da Pastoral dos Ciganos, realizado em Freising na Alemanha, de 1 a 4 de Setembro de 2008. Na abertura do Congresso que contou com 150 participantes de 26 países de três continentes, e cujo tema foi “Os jovens ciganos na Igreja e na sociedade”, falaram o Presidente da Conferência Episcopal Alemã, o Núncio Apostólico na Alemanha, o Ministro do Interior, o Secretário de Estado do Ensino e do Culto da Baviera e o Presidente da Câmara de Freising, personalidades que afirmaram o seu apoio aos jovens ciganos e a sua solidariedade com a solução dos problemas que os afectam particularmente na actualidade.
O Arcebispo Agostino Marchetto, Secretário do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI), entidade que organizou o Congresso, com o apoio da Conferência Episcopal Alemã, presidiu aos trabalhos do Congresso e leu a mensagem do Cardeal Renato Martino, Presidente do CPPMI, na qual se afirma que a Igreja tem necessidade do idealismo e da generosidade da fé jovem dos ciganos. O Cardeal Martino referiu ainda que os Estados devem garantir a todos os seus membros as condições propícias a um autêntico desenvolvimento integral da pessoa humana e deplorou as ambiguidades de Governos relativamente aos ciganos.
O Arcebispo Agostino Marchetto evocou os casos de sucesso de projectos de formação profissional para ciganos realizados na Hungria e em Espanha, neste caso pela Fundação Secretariado Gitano: o projecto ACCEDER que visa a aquisição de competências profissionais que permitem aos jovens ciganos o acesso ao mercado de trabalho. O Secretário do CPPMI mencionou as iniciativas de apoio aos ciganos, tomadas pela OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) e pelo Conselho da Europa no seio do qual funciona o Fórum Europeu dos Ciganos e Viajantes (ERTF), organismo constituído por ciganos que representam as estruturas ciganas dos países europeus; e sugeriu a formação de comissões mistas Igreja – Estado, com vista a programar estratégias de acção que visem solucionar os problemas que afectam os jovens ciganos.
O Congresso formulou diversas conclusões e recomendações nos domínios da evangelização e da promoção social dos jovens ciganos, cujo texto oficial será proximamente divulgado pelo CPPMI.
Constataram-se as inúmeras dificuldades que os jovens ciganos enfrentam na actualidade, em praticamente todos os países presentes, nos domínios da habitação, da educação e do emprego e no que concerne a discriminação, a indiferença e a marginalização a que estão sujeitos e, inclusivamente, o seu não acolhimento em muitas Paróquias; existem, no entanto, casos de ciganos leigos que assumem responsabilidades em comunidades paroquiais onde predominam os não ciganos; assinala-se ainda o trabalho evangelizador de sacerdotes e religiosas de etnia cigana.
No domínio das recomendações, acentua-se a necessidade de os ciganos assumirem as suas próprias responsabilidades na sociedade e na Igreja, de serem apoiados na rentabilização das suas potencialidades quer cívicas, quer religiosas e de a Igreja se abrir mais, no seu interior, à escuta e ao acolhimento dos ciganos e ao diálogo com eles. Neste último aspecto, enfatizou-se a necessidade da formação em interculturalidade nos Seminários.
O Congresso contou com a participação de numerosos ciganos e ciganas, tanto enquanto oradores como na qualidade de participantes. A delegação portuguesa integrou a D. Fernanda da Fonseca Maia (Delmar), cigana de Espinho, do Secretariado Diocesano da Pastoral dos Ciganos do Porto.
“Nós devemos combater o racismo não com as armas mas com o amor, com o trabalho e com a humildade, provando que para além dos nossos defeitos, nós também temos os nosso valores.” Palavras de Branislav Savic, jovem cigano de Itália, na Mesa Redonda dos Jovens Ciganos, durante o Congresso.
Francisco Monteiro - Agência Eclesia