Ciganos no Rio Grande do Norte lutam por reconhecimento social. Documento essencial na formação da cidadania de qualquer pessoa, a certdão de nascimento é difícil de ser concedida aos ciganos nascidos no Brasil. A denúncia é do jornalista e psicólogo Zarco Fernandes, diretor do Centro de Cultura Cigana de Minas Gerais, que passou o final de semana em Natal para iniciar um trabalho de mapeamento deste povo no estado. ‘‘O cigano enfrenta uma tremenda burocracia e preconceito quando vai requerer a sua certidão de nascimento. Pedem uma série de comprovações, como o CEP, por exemplo, que não são condizentes com estilo de vida nômade que é próprio desse segmento’’, disse ele. Zarco (nome cigano), cujo nome de registro é Marco Fernandes, falou que no município de Tangará dois jovens tiveram que mudar o nome de sua banda porque ele o adjetivo ‘‘cigano’’. ‘‘Não lembro exatamente o nome, mas era alguma coisa como ‘Grupo Cigano’ ou ‘Amor Cigano’. Enfim, eles foram alvo de preconceito porque o nome, segundo alguns contratantes, passa a ideia de desonestidade ou falta de compromisso’’, declarou Fernandes. ‘‘Isso é um crime terrível porque obriga o ser humano violar o que ele tem de mais precioso: a sua cultura’’, desabafa o jornalista. Ele admite que o preconceito diminui um pouco em relação ao passado recente por causa dos programas de inclusão social promovidos pelo governo federal. De acordo com Fernandes, o cartório exige um documento comprovando o nascimento da criança e que os pais apresentem documentação de identidade. ‘‘Ora, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sequer consultou um antropólogo para saber que nem pais nem avós vão ter esse registro. Pedem um código de endereçamento postal sem se darem conta de que a barraquinha do cigano não é vista como domicílio, ao contrário do barraco de um traficante, por exemplo’’. Nascido em Natal, Zarco Fernandes saiu da cidade adolescente, já morou no Rio de Janeiro e hoje mora em Belo Horizonte, onde hoje atua como psicólogo clínico. ‘‘Já denunciei essa calamidade contra a cultura cigana em audiência públicas mas o estado de coisas continua o mesmo. Na luta do rochedo contra o mar, sobra para o marisco, que é o cigano nessa história’’. Ele também afirma que ‘‘criando dificuldades’’, os cartórios alimentam uma cadeia de corrupção. ‘‘Eles dizem que não podem registrar os ciganos por falta de documentação mas por mil e quinhentos reais resolvem o problema. É totalmente contrário à determinação do governo federal de acabar com o sub-registro civil’’. ‘‘Por puro preconceito’’, alega ele, a maioria dos brasileiros não sabem ‘‘que já tiveram um presidente cigano’’, referindo-se a Juscelino Kubitschek. Fernandes diz que vai lançar um livro provando a ciganeidade do ex-presidente. ‘‘É um cigano com origem na Tchecoslováquia, cujo avô, um negociador de tropas de burros, era do grupo Calom (umas das três principais descendências ciganas). Mas a sua filha filha exigiu que a ciganeidade dele não fosse citada na mini-série da Rede Globo’’. ‘‘Ninguém sequer cita que temos dois imortais na Academia Brasileira de Letras de origem cigana, que Cecília Meireles e Castro Alves eram ciganos. Na Inglaterra, quatro pessoas que receberam o título de ‘Sir’ da rainha são ciganos: Charles Chaplin, Roger Moore, Sean Connery e Richard Burton’’, cita o psicólogo. Fernandes diz não saber a quantidade de ciganos no Rio Grande do Norte, mas afirma que em Minas Gerais eles são aproximadamente 492 mil. Ele cobra do governo e prefeitura empenho e atenção para mapear a população cigana potiguar, que ele diz serem da descendência Calom, a mais pobre. ‘‘Há linhagens de ciganos muito ricos, andam em carros luxuosos, mas não é o caso dos que estão no Nordeste brasileiro’’, explica. ‘‘Espero que seja um passo importante na inclusão social do cigano, cujas polítcas públicas estão muitas atrasadas em relação a outros países. É um povo que já mostrou sua pujança ao enfrentar uma série obstáculos e perseguições ao longo da história’’, finalizou.
Fonte Diario de Natal