Em janeiro de 1975, a versão brasileira da publicação regular O Correio da Unesco (editada no Brasil pelo Instituto de Documentação da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro/RJ - ano 3, número 1) foi dedicada aos ciganos:
Casal de ciganos sedentarizados
Imagem: reprodução da capa da publicação (no acervo de Novo Milênio), com
foto de Joseph Koudelka, tirada de La Fin du Voyage, Editora Delpire, Paris/França, 1975
Os ciganos no mundo moderno
A educação abre novos horizontes para as famílias nômades
Arthur R. Ivatts (*)
Os ciganos são uma raça nômade, originária do subcontinente indiano, de onde saíram por volta do ano 1000, rumo ao Oeste. Hoje em dia, são encontrados no mundo inteiro, sendo seu número calculado em cerca de oito milhões de pessoas (N.E.: todas as informações desta matéria são da época da publicação, 1975).
Ao longo de sua história, como grupo minoritário, sofreram grandes perseguições (a última e mais terrível foi desencadeada pelo regime nazista). No século XX, muitos se estabeleceram, mas são consideravelmente mais numerosos os que continuam se deslocando como verdadeiros nômades. Devido a este nomadismo e à sua condição minoritária, muito poucos foram os que puderam aproveitar as oportunidades de receber educação. Não obstante, ultimamente se está procurando facilitar-lhes a instrução e outros serviços sociais.
"Errantes por toda a terra" - este é o início de um poema inglês sobre os ciganos - e efetivamente hoje eles podem ser encontrados em numerosas regiões do mundo. Em sua longa história, os ciganos despertaram em toda a parte o interesse de camadas muito diversas, da realeza aos camponeses. Interesse este que derivava de um dúbio sentimento de fascinação e temor.
Mas, independentemente das reações sociais ou políticas das pessoas quanto a este povo errante, seus costumes e suas origens despertaram sempre grande curiosidade. Até o século XVIII, os estudiosos não podiam dispor de informações autênticas sobre o tema. Nessa época é que os primeiros "ciganólogos" iniciaram amplas e sérias pesquisas. Graças a seu árduo trabalho, foi possível deixar claro que o berço dos ciganos é o Noroeste da Índia, de onde teriam empreendido a sua longa migração entre os anos 950 e 1000 de nossa era.
Antes dos esclarecimentos proporcionados por estes primeiros especialistas, nos países visitados pelos ciganos acreditava-se em todo tipo de histórias sobre suas misterioras origens, para o que eles mesmos contribuíram bastante, trazendo razões interessantes e peculiares para explicar sua presença. Devido a seus cabelos negros e sua tez morena, seu vestuário original e colorido e seus títulos de nobreza, suas pretensões culturais e territoriais pareciam verossímeis.
No princípio, afirmavam descender de cristãos exilados de um país chamado o Pequeno Egito. Freqüentemente apresentavam documentos que provavam que o Papa os tinha autorizado a vagar durante sete anos, em penitência. Com tais credenciais, não é de se estranhar que os povos que visitavam nas suas migrações os acolhessem de bom grado. Numa época em que o nomadismo tinha deixado de ser uma característica dos povos europeus e os transportes e as comunicações eram relativamente primitivos, a chegada de pequenos grupos nômades e não-belicosos constituía um acontecimento que provocava curiosidade e intrigava as pessoas. Devido às origens que reivindicavam, deram para chamá-los de "egipcianos" ou "ciganos", que não é mais que uma deformação desta palavra.
Cena em campo de ciganos na Grécia, que ilustra uma característica cigana: o amor pela criança
Foto: Silveste-Rapho, Paris/França, publicada com a matéria
Os ciganos, presentes em todos os continentes, devem ser muito numerosos. Não dispomos de estatísticas exatas, mas tudo parece indicar que, deixando de lado a Índia e o sudeste asiático, somam sete ou oito milhões. Mais ou menos a metade vive na Europa, sendo que dois terços na Europa Oriental. Os ciganos são também muito numerosos no Norte da África, no Egito, na Argélia e no Sudão. São ainda encontrados na América, de Pictou no Canadá ao Rio de Janeiro no Brasil, e também na Nova Zelândia e na Austrália. É possível que existam pequenos grupos na China, nas Filipinas, nas Índias Ocidentais e no Havaí.
Há uma infinidade de livros sobre os ciganos, mas muitos interpretam de maneira errônea a sua cultura. Há, não obstante, algumas características comuns que identificam os ciganos do mundo inteiro. O nomadismo foi e continua sendo uma parte muito importante da sua vida. Embora muitos já estejam instalados de maneira permanente, o afã de viajar é freqüentemente tão intenso que eles não resistem e voltam à vida nômade. Esta característica peculiar é naturalmente a que provocou sua dispersão pelo mundo.
A língua talvez seja o fator cultural mais poderoso de vinculação dos ciganos a um patrimônio comum. O "caló" (ou "romanó") é um idioma da família indo-européia e aí se deve ver o indício mais claro de que este povo procede da Índia. Os ciganos de países diferentes podem se entender graças a esta língua comum.
Sessão musical ao pé da fogueira, na Espanha: uma característica cigana é o amor pela música
Foto: Silveste-Rapho, Paris/França, publicada com a matéria
É interessante apontar que, ao longo dos séculos, houve sempre um certo número de trabalhos e ofícios tradicionais e onipresentes na vida cigana, embora os ciganos fossem adaptando seu modo de vida e suas sucessivas condições econômicas. A música e a dança são uma tradição entre eles, também os espetáculos ambulantes como as feiras e o circo. São tratadores de cavalos, dedicam-se a vários tipos de artesanato e as mulheres se especializam em dizer a sorte. Como povo possuidor de um patrimônio cultural singular, os ciganos têm um forte senso de auto-identidade.
Ultimamente, melhorando as possibilidades de educação em muitos países e a alfabetização ganhando maior importância, os ciganos puderam comprovar os inconvenientes do seu analfabetismo. Embora durante decênios e decênios tenham recorrido aos serviços de escribas da sua própria raça, agora sem dúvida sentem o desejo de que seus filhos compareçam à escola para aprender a ler e a escrever.
Talvez seja interessante citar um ou dois exemplos concretos para mostrar sua necessidade de instrução. Em muitos países, um grande número de ciganos já leva uma vida sedentária. Em alguns deles, a sedentarização é conseqüência de medidas coercitivas, que nem sempre deram resultados. O abandono da vida nômade os envolve forçosamente na vida de uma sociedade sedentária e os relaciona com ela. Por razões de emprego, segurança e informação, é indispensável saber ler e escrever para não ser um verdadeiro inválido social, incapacitado para os múltiplos detalhes da vida cotidiana.
Tanto para os ciganos sedentários quanto para os nômades, a educação deve proporcionar os instrumentos necessários para ler e para compreender os elementos essenciais de seus direitos, mas também, por exemplo, para estar a par do regulamento do tráfego. Devemos esperar que a instrução lhes dê a oportunidade de estudar e aprender melhor sua própria história e sua própria língua. Seu direito à educação está garantido pela legislação nacional e pelas declarações internacionais sobre os direitos humanos. Torna-se por isso surpreendente que sejam tão poucos os que parecem estar em condições de participar de uma vida escolar normal.
Ciganos, gitanos, zíngaros, gypsies, boemianos e muitos outros nomes designam o mesmo povo nômade que saiu da Índia e se dispersou pelo mundo. Caldeireiros, latoeiros, ourives, negociantes de cavalos, eles mantêm um forte espírito comunitário mesmo quando se tornam sedenários e deixam de falar a sua língua, o romani. Alguns abandonaram completamente o nomadismo, outros se fixaram temporariamente em um lugar. Para muitos ciganos a base física é um aglomerado de barracos nos arredores de uma grande cidade ou uma casinhola precária em um terreno abandonado, como a desta foto
Foto: Joseph Koudelka, in La Fin du Voyage, Editions Delpire, Paris, e publicada com a matéria
Tradicionalmente, o nomadismo foi a razão principal para que os ciganos não aproveitassem plenamente as possibilidades de educação. Os internatos escolares constituem uma das maneiras possíveis de superar os problemas do nomadismo, mas a experiência demonstra que as famílias se opõem vivamente a este sistema porque não desejam ficar separadas de seus filhos.
Também não se pode considerar que o ensino por correspondência seja uma solução prática, quando os adultos são analfabetos e não sabem orientar suas crianças nos estudos.
Mas seria um erro pensar que a insuficiente escolarização das crianças ciganas se deve a um só destes fatores. Na maioria dos casos, junta-se uma série de fatores mutuamente relacionados, muitos dos quais são comuns a todos os grupos minoritários. Numa sociedade fundamentalmente sedentária, o sistema de educação não pode, evidentemente, adaptar-se ao modo de vida errante: por isso, qualquer minoria nômade estará sempre em condições desfavoráveis, pelo seu próprio estilo de vida. Uma assistência irregular à escola certamente não facilita uma instrução eficaz.
É significativo que muitas minorias étnicas, cujo modo de vida se diferencia do da maioria, fiquem excluídas de serviços sociais como a escolarização. Este inconveniente muitas vezes se agrava, devido à discriminação e aos preconceitos, derivados na verdade de uma falta de compreensão mútua entre os grupos. Na prática, muitas escolas resistem, por este motivo, a aceitar crianças ciganas em suas classes.
Numa perspectiva histórica mais geral, os ciganos sofreram os efeitos desses preconceitos, assim como diversas perseguições, o que resultou, com freqüência, em que se mostrassem pouco atraídos pelas facilidades que a sociedade lhes oferecia, inclusive a instrução escolar.
Outra conseqüência desta falta de compreensão entre os grupos é que o temor é mais possante que a curiosidade, e uns e outros se sentem ameaçados, motivo pelo qual o intercâmbio, normalmente fecundo entre duas culturas, se vê detido pelos receios e pela suspeita de que o modo de vida da minoria sucumba à pressão cultural do grupo mais forte. Daí que os ciganos tendam a não enviar seus filhos aos centros docentes.
Esta resistência dos pais se deve às vezes a uma reação de orgulho: eles foram bem sucedidos na vida sem saber ler nem escrever. É, pois, natural que se perguntem para que seus filhos vão precisar do conhecimento que a escola lhes fornece.
Quando as crianças vão à escola, sua freqüência é esporádica e seus progresssos evidentemente limitados. É bem sabido que, para as crianças que procedem de um meio analfabeto, a escola se torna desconcertante e difícil. Os pais às vezes pensam que a escola existe para ensinar rapidamente seus filhos a ler e a escrever. Dá trabalho fazê-los compreender que é tão árduo e tão demorado adquirir tais conhecimentos básicos. E as crianças precisam de ajuda e estímulo constantes para superarem os obstáculos em que tropeçam.
As tentativas de obrigar as crianças ciganas a irem à escola, habituais em muitos países, têm sido em geral traumatizadoras para elas e para a escola. O meio escolar lhes é insólito e, o que é pior, freqüentemente sofrem hostilidade das outras crianças. Os professores nem sempre compreendem ou apreciam seu estilo de vida e os materiais de leitura geralmente têm muito mais que ver com os interesses e o ambiente dos alunos sedentários que com os seus. As experiências infelizes deste tipo contribuem para desalentar ainda mais as crianças nômades.
Em certos países - principalmente na França - tentou-se incrementar a assistência escolar mediante a concessão de incentivos econômicos, por exemplo, subsídios familiares. Embora deste modo se possam obter os resultados desejados, talvez isto aconteça as custas da felicidade da criança, devido aos interesses e às necessidades pecuniárias de sua família. Incentivos econômicos similares constituíram a base de certos planos de alfabetização de adultos, por exemplo, na Suécia.
Outro fator que dificulta a educação consiste em que muitos ciganos nômades vivem em acampamentos temporários e não-autorizados, onde inevitavelmente faltam serviços sanitários e abastecimento de água. Dada a insegurança destes locais e a inexistência dos serviços mais elementares, não é de estranhar que o fato de ir à escola pareça sem importância.
Família cigana em volta do caldeirão do jantar nos arredores de Belgrado, Iugoslávia
Foto: Silveste-Rapho, Paris/França, publicada com a matéria
A família nômade normalmente trabalha em grupo como unidade econômica e talvez esta seja a razão de muitas vezes considerar a educação como um fator que debilita a sua cultura. Para as crianças mais velhas, a freqüência à escola pode se tornar incompatível com sua função econômica no seio da família. Os ciganos acham que a vida nômade requer grande robustez física e que a escolarização impede seus filhos de se adaptarem a um modo de vida duro e vigoroso.
Não parece existir motivo sólido para que os sistemas de educação em geral e os centros docentes em particular não se possam adaptar suficientemente no sentido de acolher um grupo minoritário como os ciganos. Basta que todos os interessados dêem provas de flexibilidade e sensibilidade necessárias.
Freqüentemente, quando as crianças ciganas chegam pela primeira vez à escola, sua instrução prévia é mínima e estão atrasadas em relação a seus colegas. Se não são muito numerosas, a escola deve estar em condições de prestar assistência intensiva a cada criança em particular, a fim de que acabe por estar à altura do resto da classe.
Mas, quando se trata de muitas crianças, esta tarefa pode ser grande demais para a escola, tanto no que se refere ao pessoal quanto no que se refere ao espaço. Neste caso, serão necessários novos professores e novas salas para poder criar uma seção especial de recuperação, que pode ser organizada na própria escola ou, no começo, no próprio acampamento dos ciganos.
Uma experiência pedagógica num ambiente acolhedor e pouco formal contribuirá muito para avivar nas crianças a fé na sua incorporação posterior a uma escola comum. Em certas circunstâncias, quando um bairro inteiro é ocupado por ciganos, como às vezes ocorre em países como a Espanha e a França, a solução mais indicada talvez consista em criar uma escola exclusivamente cigana.
Mas qualquer que seja a reação institucional em relação às necessidades das minorias, será indispensável ter presente o que os beneficiários desejam para seus filhos em matéria de educação. Os pais devem participar de todos os níveis da tomada de decisões e, se possível, participar também do trabalho docente. Deste modo, se conseguirá que contribuam para configurar o seu próprio destino em harmonia e cooperação com o resto da sociedade.
Onde as escolas são integradas por muitos grupos sociais e raciais diferentes, é importante que o plano de estudos e, na medida do possível, o professorado reflitam esta diversidade de origens culturais. Também é importante que, nestas instituições plurirraciais, os materiais didáticos tenham relação com os interesses dos alunos e que se procure equilibrar adequadamente as culturas dos diferentes grupos. Deste modo, ficará realçada a fecundidade da vida escolar e se promoverá a compreensão e a amizade entre os alunos.
Torna-se evidente, nestes casos, a necessidade de dar aos professores uma formação complementar. É preciso, além disso, preparar livros e materiais didáticos, assim como métodos docentes, relacionados com as necessidades e os interesses dos diferentes grupos. A cultura cigana tem tradição muito rica e pode trazer uma contribuição positiva para a vida e o trabalho de qualquer escola.
A educação plurirracial tem o inconveniente de que o interesse de uma minoria pode entrar em conflito com os interesses da coletividade que a engloba. Por exemplo, são muitos os ciganos que desejam que, desde os 12 ou 13 anos, seus filhos assumam uma responsabilidade crescente na vida social e econômica da família. Em certos países este desejo se choca com a exigência legal de que os adolescentes freqüentem a escola até os 16 ou 17 anos.
O problema é delicado e deve ser abordado com prudência, já que se pode argumentar que o fato de que as crianças assumam papéis de adultos constitui uma formação importante por si só e que privá-las desta oportunidade, mantendo-as na escola, pode vir a ser contraproducente para o seu êxito na vida adulta. Mas, isto não é certamente privativo das minorias e sua aplicação é cabível para qualquer grupo social. De qualquer forma, não se deve negar, a quem deseja, a possibilidade de prosseguir seus estudos.
Tendo tudo isto presente, concluirei dando alguns exemplos de planos de educação para as crianças ciganas, aplicados em diferentes partes do mundo.
Numa estrada da Grécia, um cigano com seu urso domesticado que dança ao som de um pandeiro. Os ciganos são grandes criadores de cavalos para revenda, e muitos se destacam como amestradores de ursos, cães, macacos e bodes, que exibem em feiras ambulantes. Outros montam pequenos circos, nos quais se exibem como acrobatas e ilusionistas
Foto: Silveste-Rapho, Paris/França, publicada com a matéria
Assim, na França, facilita-se para os ciganos um número crescente de locais, onde são incentivados a permanecer durante mais tempo, para que possam aproveitar os serviços dos centros sociais e docentes mais próximos. Estimula-se também a freqüência regular das crianças, durante suas estadias de inverno mais prolongadas, a escolas municipais comuns, oferecendo-se muitas vezes incentivos financeiros. A política oficial em relação aos ciganos preocupa-se, na França, com o seu desenvolvimento social, que se espera conseguir por meio da escolarização, da educação sanitária, da economia doméstica, da formação profissional e da organização de atividades recreativas.
Na Suécia, a maioria das famílias já está estabelecida em moradias fixas e as crianças freqüentam escolas comuns, mas, muitas vezes, contam com os seus próprios professores, que lhes dão uma ajuda suplementar e permitem que se dediquem aos temas culturais que as interessem. Há também amplos programas de alfabetização para os ciganos adultos.
Os Países Baixos apresentam um sistema de acampamentos regionais muito grandes, em que existem escolas, clínicas, igrejas, campos de esportes e centros sociais, mas, na opinião de muitos observadores, esses acampamentos estão socialmente isolados e em geral distantes das cidades.
Na República da Irlanda, criaram-se várias escolas especiais, com a cooperação de organismos oficiais e de entidades privadas.
Nos Estados Unidos, existe uma escola especial para crianças ciganas em Richmond (Virgínia), custeada por fundos privados e que se dedica principalmente ao ensino da leitura e da escrita. Em Nova York, procura-se fazer com que as crianças ciganas sejam enviadas às escolas primárias oficiais.
No Reino Unido, onde o governo demonstrou seu interesse ajudando o Advisory Committee for the Education of Romany and Other Travellers, tem-se prestado grande assistência aos problemas educativos e sociais dos ciganos. Numa cidade inglesa, em que as famílias ciganas acampam ilegalmente em diferentes bairros, um ônibus escolar vai buscar o professor que, por sua vez, indica ao motorista onde deve ir para apanhar os alunos. Estes são levados a uma escola especial onde ensinam de maneira intensiva e individual a leitura, a escrita, a matemática e outras matérias. Quando já adquiriram certa confiança em si e conhecimentos suficientes, unem-se a seus irmãos na escola primária.
Cabe citar também o caso de algumas crianças que contam com a sua própria sala de aula, instalada num carroção no pátio da escola primária, onde recebem ajuda especial para sua alfabetização e para aprender outras matérias, incorporando-se ao resto dos alunos para brincar, nadar e fazer excursões. Depois, passam para as aulas normais, quando tanto os pais quanto os professores consideram aconselhável. Há, naturalmente, muitas crianças ciganas no Reino Unido que vão normalmente a escolas comuns, onde se procura facilitar seu progresso educativo e social.
Na Itália, organizaram-se no início do decênio passado (N.E.: década de 1960-69) alguns planos oficiais e privados para as crianças ciganas. Em 1965, o Ministério da Instrução Pública decidiu criar 11 salas de aula para crianças nômades, com o título de "Opera Nomadi". As escolas recebem o nome de "Lacio Drom" (Grata Viagem); em 1972 já havia 60 escolas deste tipo, com cerca de mil alunos, a metade dos quais assistia às aulas regularmente.
É difícil dar formação adequada aos grupos minoritários; para isso são necessárias muitas consultas e uma boa dose de reflexão. A instrução das minorias reveste-se de importância crescente, e uma política eficaz na matéria deve fomentar a compreensão e o apreço mútuo entre povos diferentes, que haverão de coexistir num mundo cada vez menor. E é justamente na escola onde se devem assentar as bases desta futura compreensão e cooperação.
(*) Arthur R. Ivatts, sociólogo e educador britânico, é especialista em educação de grupos nômades. Nessa qualidade, ele assessora a Comissão Consultiva para Educação dos Ciganos e outros Nômades, com sede em Londres, e também as autoridades educacionais da Grã-Bretanha, com vistas à integração de grupos nômades em programas de educação comunitária (N.E.: informações de janeiro de 1975).
Numa estrada espanhola, uma verdine, tradicional carroça cigana que aloja a família com todos os seus pertences e utensílios. Em 1975, na Europa Ocidental, a verdine puxada a cavalo já estava sendo substituída pela camioneta, mas o estilo de vida cigano quase não muda.
A maioria dos ciganos pouco se interessa pela acumulação de bens materiais. Segundo um provérbio cigano, "o homem faz o dinheiro, mas o dinheiro não faz o homem"
Foto: Silveste-Rapho, Paris/França, publicada com a matéria