quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Ciganos sao os mais rejeitados na Argentina

Argentina: Brasileiros são ''estrangeiros preferidos'' de estudantes, diz pesquisa


Mais de 50% dos adolescentes entrevistados rejeitam judeus, chineses e bolivianos.

Márcia Carmo - BBC -de Buenos Aires

Uma pesquisa inédita realizada com estudantes na Argentina revelou que os brasileiros são os estrangeiros mais aceitos do país.
Segundo o estudo, feito para avaliar a xenofobia entre os estudantes, os brasileiros tiveram maior índice de aceitação (52%) e menor índice de rejeição (30%) numa lista de doze diferentes grupos de estrangeiros.
A pesquisa, que ouviu 5 mil estudantes do segundo grau de 85 escolas públicas de várias províncias do país, foi realizada pelos sociólogos argentinos Ana Lia Kornblit e Dan Adaszko, do Instituto de Investigação Gino Germani,
da Universidade de Buenos Aires (UBA).
Em entrevista à BBC Brasil, Adaszko disse que os resultados da pesquisa surpreenderam pelo alto nível de "xenofobia",
com percentuais preocupantes, por exemplo, de rejeição a ciganos (67%), judeus (55%), chineses e coreanos (52%) e bolivianos (52%).
Os estudantes receberam listas com as nacionalidades e grupos e três opções de respostas - aceitação, rejeição e indiferença.
Mais de 40% dos estudantes rejeitaram os peruanos, chilenos, paraguaios, americanos e árabes.
Os brasileiros são uma exceção nesta lista, como disse Dan Adaszco: "Acreditamos que, diferente dos outros
grupos de estrangeiros, citados na pesquisa, os brasileiros não são vistos como uma ameaça
no mercado de trabalho local", afirmou.
"Além disso, há a imagem positiva do carnaval, das férias nas praias brasileiras e o reflexo do que sai na imprensa
argentina sobre o Brasil e os brasileiros", completou Adaszco.
Para ele, a pesquisa confirma a fama de "xenofobia" em setores da sociedade argentina. "Nós entendemos que os adolescentes são um reflexo do mundo dos adultos e têm coragem de dizer o que os adultos não dizem", afirmou.
Apesar da fama, Adaszko se disse surpreso com o alto grau de rejeição, de mais de 50%, em relação a ciganos, judeus, chineses e bolivianos.
Segundo o estudioso, existe um "discurso duplo" na Argentina por ser um país que abriu as portas para a imigração, mas não de forma igualitária. "Para muitos, especialmente nos grandes centros urbanos do país, o ideal e aceitável é o europeu e o branco e não o nativo da América Latina", avaliou.
"O latino é visto aqui com desconfiança e até desprezo". Segundo ele, a pesquisa mostrou ainda que o índice de "xenofobia" e "racismo" diminui a medida que aumenta o nível de educação dos pais. "Não é questão de classe social, mas sim que depende do nível de educação dos pais dos estudantes adolescentes", disse.
Na Argentina, no final do século 19 e início do século 20, as principais imigrações foram italiana e espanhola. Nos anos 90, segundo dados oficiais da Direção Nacional de Migrações da Argentina, a maior imigração partiu dos países da região como Bolívia, Peru e Paraguai - os brasileiros são minoria nesse grupo.
A pesquisa de opinião recebeu o Prêmio Ibero-americano em Ciências Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México e será premiado, nesta terça-feira, pelo Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (INADI) da Argentina.

Fonte Estadao http://www.estadao.com.br/geral/not_ger42257,0.htm#1104209997eFfVRq-RGpD40QGS_Z3oBw