segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Casamento Cigano

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Tradição e requinte num casamento de ciganos com 1500 convidados em Portugal

O casamento de Sílvio e Graciete só foi aceite depois de um grupo de ciganas ter confirmado a virgindade da noiva num ritual que decorreu numa luxuosa cama concebida pela estilista brasileira Célia Thyola. A festa prolongou-se por dois dias e só no sábado é que os noivos tiveram liberdade para namorar num hotel do Algarve.

Noite de quinta-feira. Num espaço reservado do Salão de Festas da Baracha, um grupo de ciganas mais velhas cumpre o ritual que certifica o casamento cigano. A confirmação de que a noiva está pura, “como Deus a trouxe ao mundo”, é fundamental para o êxito do matrimónio. “Quando ela não está pura não há casamento. Já tem havido brigas de morte”, explica o pai da noiva Ezequiel Limas. O anúncio da certificação do enlace é feito com a entrada dos noivos no Salão de Festas. São recebidos como reis. O novo casal, vestido a preceito, salta por entre os 45 padrinhos que são convidados de honra e ajudam a pagar a boda no dia seguinte. Agitam-se lenços brancos e a festa ganha ainda mais ânimo pela noite fora.

O casamento de Sílvio Oliveira e Graciete Limas começou na quinta-feira, 25 de Outubro, e juntou mais de 1500 ciganos na herdade que acolheu a Quinta das Celebridades, em Samora Correia. Os últimos convidados deixaram a festa na madrugada de sábado cerca das 04h00. Por essa hora, já os noivos estavam em lua-de-mel. Os primeiros dias foram passados num hotel luxuoso no Algarve antes de uma viagem de sonho a Paris. O programa na cidade Luz inclui visitas a museus e à Disneylandia.

“Vai ser um espectáculo. Sempre desejei ir a Paris. É uma cidade linda”, explica o noivo Sílvio Oliveira de 28 anos. Licenciado em Educação Social, o jovem da Chamusca trabalha no jardim de infância e na escola da terra onde é querido por toda a gente.

“Ele é um homem como deve ser. Estão aqui muitos ciganos que a pediram em casamento, mas eu não autorizei. Escolhi o Sílvio porque é um homem para a vida. É formado, sabe falar e não nos deixa ficar mal”, justifica Ezequiel Limas, o pai da noiva que na tradição cigana tem o poder de aprovar ou rejeitar o futuro genro.

A conversa decorre enquanto Graciete Limas, 20 anos, vestida com um elegante vestido laranja dança com as convidadas solteiras numa roda montada dentro duma tenda de grande dimensão. Os homens vão petiscando e bebendo no espaço em redor do salão de festas. O ambiente rural da herdade onde decorre a festa contrasta com o requinte das roupas e com os cordões e pulseiras em ouro que valorizam a indumentária na maioria dos convidados. “Há ciganos de todo o país desde Viana do Castelo ao Algarve”, explica o anfitrião Ezequiel Limas.

Dois porcos e uma vaca são assados no espeto. O cheiro abre o apetite a quem vai chegando e recebe as boas vindas dos pais dos noivos. Enquanto as mulheres preparam a comida à volta de grandes tachos e panelas na cozinha. A maioria das pessoas que serve os convidados é cigana.

Ao longo dos dois dias, o animador da festa, José Ribeiro só passa ritmos ciganos. “Eles apreciam todo o tipo de música, mas esta está na alma cigana e é com ela que se identificam”, justifica.

A tradição cigana é rígida e é para ser respeitada. Foi o pai do noivo que pediu ao pai da noiva autorização para o enlace. Manuel Estêvão de Oliveira, filho do falecido “Chamusco”, negociador de cavalos da Chamusca, fez o pedido que foi de pronto aceite pelo pai da noiva Ezequiel Limas.

Os novos compadres assumem a despesa da festa que deve custar cerca de 40 mil euros. Os 45 casais de padrinhos oferecem 250 euros cada para a festa do segundo dia onde se come de tudo e à grande na tenda montada no picadeiro da herdade. Um dos padrinhos lembra a necessidade de acertar contas aos microfones para que ninguém se atrase no pagamento. Também aqui é uma questão de honra e todos pagam em dinheiro vivo.

Já a nossa reportagem está no fim, quando o pai da noiva faz questão de frisar para não esquecermos a cama da noiva que nos deu o privilégio de ver em primeira-mão.

Uma cama das Arábias em tons de diamante e dourado com pedras “preciosas” cravadas. A obra foi concebida pela estilista brasileira Célia Thyola que consumiu mais de 450 metros de tecido luxuoso para fazer “uma peça única”. “Já fez milhares de camas, mas nenhuma como esta”, explica orgulhoso Ezequiel Limas para quem o dinheiro não é importante e a filha “merece um casamento de rainha”.

Nota do Blog:
Os Casamentos Ciganos variam de Acordo os Costumes de Cada "Vitsa" (de Cla pra Cla de Grupo a Grupo)

Fonte: Diario Regional de Portugal "O Mirante"