segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Juscelino Kubitschek

JK

O Presidente que modernizou o Brasil. Seu lema: cinqüenta anos em cinco

Ou declareis que a árvore é boa e o seu fruto é bom,

ou declareis que a árvore é má e o seu fruto é mau.

É pelo fruto que se conhece a árvore. Mt 12,33



Nosso grande ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK) era descendente de cigano?


Afinal, onde está a verdade? Temos grande respeito por nossos antepassados e não entendemos porque em certas condições baixam uma cortina de silêncio e se recusam a falar sobre um tema tão relevante: nossa genealogia. No caso de JK não se consegue ir além de seus bisavôs. Por que? Será desonra ser descendente de cigano? JK nunca se pronunciou a respeito, sua família também não. Achamos que este é o momento oportuno de deslindar esta questão. Confesso desde já não trazer novidades, meu interesse maior é que os historiadores e familiares façam um definitivo esclarecimento. Aqui vamos registrar apenas o que muitos já disseram e apresentaram indícios de que nosso JK e grande presidente tem raízes na antiga Tchecoslováquia (hoje República Checa), lá em Trebon. Então vamos aos que tiveram coragem de emitir opiniões sobre nosso querido presidente seresteiro.


Em História dos ciganos no Brasil, Rodrigo Corrêa Teixeira1 (inédito) nos informa que, para o Brasil, vieram ciganos ibéricos e não-ibéricos, ou seja, calom e rom respectivamente. O rom2 que aqui chegou mais cedo teria sido Jan Nepomuscky Kubitschek, que trabalhou como marceneiro no Serro e em Diamantina. Casou-se com brasileira. Em seu matrimônio com Teresa Maria de Jesus Aguilar, teve três filhos. O primeiro foi João Nepomuceno Kubitschek, que viria a ser um destacado político; o segundo, Carlos Kubitschek e o terceiro foi Augusto Elias Kubitschek, um comerciante com escassos recursos, que viveu toda sua existência em Diamantina; casado com Maria Joaquina Coelho. Uma de suas filhas: Júlia Kubitschek, casou-se com João César de Oliveira e foram os pais de Juscelino Kubitschek3 (1902-1976), que depois se tornou presidente do Brasil. A árvore genealógica de JK, até o bisavô, está no site


O jornalista Luís Nassif, em artigo publicado pela Folha de São Paulo, em 15 de setembro de 2002, assim se refere a JK:


... Moreira Salles [embaixador e banqueiro] o considerava um ‘cigano’, sem compromisso com idéias, partidos e grupos, e bastante vulnerável a amizades pouco selecionadas”.


O definitivo depoimento sobre a origem cigana de Juscelino foi feito por João Pinheiro Neto (jornalista, ex-Ministro de JK), às entrevistadoras: Aspásia Alcântara Camargo, Helena Maria Bousquet Bomeny e Maria Luísa d’Almeida Heilborn, para o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de onde extraí este texto ipsis litteris:


Como o senhor definiria Israel Pinheiro? [Pergunta das entrevistadoras].


O Israel basicamente é um grande capitão de obras, um grande construtor, um grande realizador, também sem nenhuma preocupação de ordem ideológica. Um pragmático parecido com o Juscelino em muitos pontos, menos na simpatia pessoal. Se bem que quando o Israel queria também era simpático; mas o Juscelino era sempre simpático. O Juscelino era um cigano. Quando fui à Tchecoslováquia perguntei se havia Kubitschek lá. Aliás, a D. Sara já tinha estado lá e visto no catálogo que há centenas de Kubitschek. Ele era da Boêmia, daí gostar de violão, de música, de dança, de mulher.”


Mônica Buonfiglio, escritora, dá este depoimento, O cigano Juscelino Kubitschek:


Juscelino Kubitschek nasceu a 12 de setembro de 1902, em Diamantina (MG), era descendente de ciganos. O bisavô materno de JK (tcheco cigano) desembarcou no Brasil em 1830. O pai João César era caixeiro-viajante e morreu de tuberculose quando ele tinha dois anos. Dona Júlia, sua mãe, era professora primária, tratando de educar Nonô (apelido usado em casa) de maneira rígida.


É uma pena que JK pouco se manifestou sobre o fato de ser cigano (além dele, vários outros ciganos ocuparam posição de destaque no Brasil, como Castro Alves, Cecília Meireles entre outros). Embora não mencionada em sua biografia, esta afirmação tem apoio de antropólogos, historiadores brasileiros e europeus que se basearam em relatos orais de amigos ciganos residentes em Contagem (MG). Juscelino só falava sobre ciganos na presença de outros ciganos.


A Revista Gula http://www.2.uol.com.br/gula/reportagens/119_lucinha.shtml nos apresenta esta reportagem:


JK, o presidente bom de garfo:


Elegante, sorridente, pé-de-valsa, político brasileiro dos anos dourados, era um amante fervoroso da comida. O marido de dona Lucinha [a cozinheira de JK], ex-prefeito de Serro e fã incondicional de JK, conhece cada detalhe da vida de seu ídolo, incluídas datas, frases e personagens envolvidos nos eventos. [...] “Ele era quase conterrâneo. Seu bisavô, cigano, e seu avô, João Alemão, nasceram e viveram no Serro”.


Em seqüência, tenho em mãos um artigo publicado pelo Centro de Cultura Cigana (CCC), em Juiz de Fora que diz em resumo:


Com a palavra de abertura, o deputado espanhol Juan de Dios Ramirez Herédia afirmou: Os políticos brasileiros, em particular os de Minas Gerais, têm o dever de abraçar com orgulho esta causa. Afinal o Brasil é o único país do mundo que pode orgulhar-se de ter tido um Presidente da República cigano: o mineiro Juscelino Kubitschek”.


O artigo citado continua com esta afirmação peremptória:


... a decisão de construir Brasília passou por uma ‘consulta’ debaixo de uma tenda cigana, no bairro de Mesquita, a Lhuba Stanescon...”


Num artigo escrito por Zarco Fernandes, presidente do CCC, em Juiz de Fora, ele finaliza o extenso trabalho com esta frase que seria de JK e dita a amigos, em São Lourenço (MG), em 25 de fevereiro de 1972:


Tenho uma imensa tristeza muito dificilmente revelada: a de nunca ter podido declarar-me cigano”.


Mas Zarco (Marcos Fernandes), o presidente do CCC é incansável; eis o que me enviou por e-mail:


... Quero concluir minha afirmativa (JK era cigano) com uma citação contida no Jornal do Brasil de 7 de dezembro de 2001. As páginas 4 e 5 do referido periódico, trás matéria especial sobre a Academia Brasileira de Letras. Com título POR QUE, AFINAL, A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS SEDUZ TANTA GENTE? Lemos: “A Academia já utilizou critérios de bajulação do poder, quando elegeu o presidente Getúlio Vargas, e também deixou de escolher outro — Juscelino Kubitschek, então em desgraça com a ditadura militar, preterido por um escritor puro-sangue, Bernardo Élis...”


Ainda em reforço à tese da ciganidade de JK, adiciona nosso presidente do Centro de Cultura Cigana, em Juiz de Fora:


Na Revista “Manchete no 2.085, de 21 de março de 1992, lemos nas páginas 66 a 71, reportagem de Claudia Lobo (Rio), Durval Ferreira (São Paulo) e Marcos Achiles (Brasília), matéria sobre os ciganos e sua participação no carnaval daquele ano, no qual a escola de samba UNIDOS DO VIRADOURO homenageou o presidente JK, com o enredo “...e a magia da sorte chegou. Composição: Heraldo Faria, Flavinho Machado e Gelson Rubinho, (transcrição a seguir). Em determinado trecho da reportagem lemos: O enredo serviu para mostrar aos gajões que o Brasil já teve um presidente da Republica cigano.”


Uma estrela brilhou

Brilhou, brilhou, brilhou

Tão cintilante que os magos iluminou.

Será o novo sol da amanhã? Do amanhã.

O arco-íris da aliança que não se apagará

Vem do Oriente com sua arte de criar,

Na palma da mão lê a sorte

Com a magia do seu olhar.

Chegando ao velho continente

Á marca da desilusão,

Castigo, degredo, açoite,

Por que tanta discriminação?

A cada passo, a poeira levanta do chão.

Ferreiro, feiticeiro, bandoleiro.

A liberdade é sua religião

E vem chegando o dono desse chão.

No berço, a mão do menino

Abriu-se ao destino, eis a nova Canaã

Ê, ê, cigano, bandeirante em busca de cristais

Canta, dança, representa

Da vida a nossos laços culturais.

Cigano-rei, mineiro iluminado

O mundo não vai esquecer,

Plantou no solo brasileiro

A realização do amanhecer

É uma Nova Era, ô, ô, a magia da sorte chegou

O sol brilhará,

Surge a estrela-guia

E sob a proteção da lua

Canta Viradouro,

Que a sorte é sua.

À Jordana Aristich, cigana, divulgadora da cultura cigana, lhe perguntaram:


O ex-presidente Juscelino Kubitschek tinha mesmo descendência cigana?

Jordana — Sim, pena que não esteja vivo para ele mesmo manifestar-se a respeito.


A revista Planeta, no 216, de setembro de 1990, p. 24, publica o artigo Ciganos, um povo na encruzilhada de autoria do jornalista Romeu Graziano, quando ele cita ipsis litteris:


... na galeria de ciganos ilustres encontramos o presidente Juscelino Kubitschek”..


A notícia publicada no http://democracia.com.br/participe/partnoticias.asp?t=4&nop=407 espelha este texto:


Presidente do Senado visita a República Checa.

25/3 – EFE O Presidente do Senado do Brasil, Ramez Tebet, visita hoje, segunda-feira, a República Checa durante uma viagem à Europa [....] Sobre as relações entre os dois países, Pithart lembrou os anos de 1956 a 1961, quando Juscelino Kubitschek era presidente do Brasil. Ele, que nasceu na cidade checa de Trebon, na Boêmia do sul, emigrou para o país latino-americano. [Obs.: A família de JK emigrou de Trebon para Diamantina]


Cristina da Costa Pereira, professora de literatura e escritora, em entrevista à Revista Planeta, no 174, março de 1987, p. 14, intitulada Ciganos, os ladrões de almas, falou ao repórter:


Imagine, Kubitschek era cigano, filho de mãe cigana, descendente de tchecos; o lado paterno não era. Lendo notícias de jornais da época, achei declarações reveladoras do próprio ex-presidente e o vi como padrinho de casamento de vários grupos ciganos.


Lemos no site de Carta Capital http://www.cartacapital.com.br/edicoes/2005/07/350/2415/


JK teve de omitir que era [cigano], senão não seria presidente. Nunca fez nada por nós, também porque não fomos pedir”, diz Iovanovitch. “Os ciganos de Inconfidentes, em Contagem, preservam o relato oral de visitas de JK às comunidades. Ele tinha origem cigana, relacionava-se com eles”.



Por último, mas não menos importante, transcrevo parte uma entrevista publicada na Revista de História, da Biblioteca Nacional, ano 2, no14, p. 35, sob o título Plano Nacional de Cultura para os ciganos:


Pergunta:


RH (Revista de História). Há discriminação contra os ciganos?

GV (Geraldo Vitor da Silva Filho, da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural e coordenador do Grupo de Trabalho para as Culturas Ciganas). “Há, e bastante. Isto vem da época da Inquisição quando a igreja passou a condená-los pelas práticas esotéricas que eles exerciam, como a leitura de mão. A partir daí surgiu uma série de mitos infundados, como os que dizem que ciganos raptam crianças ou vendem cavalos cegos. Para vocês terem uma idéia, até 1998 o Dicionário Aurélio colocava a palavra ‘cigano’ como sinônimo de ‘trapaceiro’. E isso se faz sentir até hoje. JK era neto de ciganos, e Márcia Kubitschek proibiu que isso fosse citado na minissérie recente feita pela Rede Globo...”.

Assim, termina-se esta pesquisa sobre a origem de JK. Jamais serão apresentadas certidões de batismo de seus antepassados, pressupondo que eram realmente ciganos, porque este povo não costuma registrar seus filhos em cartórios. Temos que nos louvar nesses depoimentos e tê-los como parcialmente verdadeiros, até prova em contrário. Não podemos ter estes depoimentos como verdadeiros in totum, mas também não vamos descartá-los como inverídicos. E aqui fica um desafio para pesquisadores e historiadores: Que se aprofundem na genealogia de JK e nos dêem um parecer definitivo. Até então, vamos ter JK como nosso irmão cigano, com muita honra.


Legado de JK ao povo: Alegria, esperança, otimismo, auto-estima, orgulho de ser brasileiro, visão do futuro e liberdade.

Realizações de JK: Universidades, indústrias (automotiva, naval, siderurgia etc.), estradas, represas, hidroelétricas, Brasília; em suma: desenvolvimento e progresso.

"Ninguém pode ter outro interesse se não o de que se consolide o regime de liberdade, sem o qual não há nação que possa qualificar-se de civilizada." JK


Asséde Paiva